quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pearl Jam Oeiras Alive 2007


Durante toda a semana choveram ameaças de intempérie. A ânsia corrosiva da contagem decrescente tinha sido inexplicavelmente abafada pela racionalidade de um coração de fã saciado e experiente. Saímos, pela primeira vez, tarde e chegámos sem nos perdermos. O dia acabou por contrariar as mais cientificas previsões. Como a cada passagem da banda, o tempo e o Oceano fizeram questão de se pôr bonitos, na melhor tradição portuguesa de bem receber quem gostamos.

As expectativas confirmaram-se, o cenário era diferente, pintado com as cores do capitalismo que ofuscavam a cortina de cena de um Tejo-mar magnifico a servir de almofada a um Sol envergonhado e cansado de final de tarde. Depois das diligências necessárias e de um jantar servido à pressa num "Manneken-Pis" mal passado, lá rumámos ao recinto.

Seguiu-se uma revista capaz de encontrar qualquer mini-petardo escondido e por fim lá entrámos ao som dos espaciais Blasted Mechanism. Da viagem de reconhecimento ficou-me a sensação de feira popular, o aroma a haxixe estava diluído no cheiro característico das farturas, as pizzas das multinacionais estavam lado a lado com os psicológicos e familiares cachorros. O palco dois, palco Sagres Mini (baptizado a meu ver por ser uma minúscula tenda que não matava a sede) estava bem composto, ao som de alguém menos conhecido que um qualquer jogador do Aves. Máquinas electrónicas, matraquilhos, lojas de roupa, barracas de promoção, havia de tudo... Cedo se percebeu que existia bem mais para além da música.

As casas de banho brindavam-nos com tronos de porcelana, o recinto (apesar da quantidade exagerada de pedras que estavam ali mesmo a pedi-las) era perfeito. O merchandising das bandas chamou-me a atenção... após um incursão acidental na candonga, muni-me da t-shirt oficial e senti-me preparado para a acção.

Ao palco subiram os Linkin Park, a legião de fãs de palmo e meio correu para o palco e vibrou com um inicio ao som de um qualquer hit da banda. Ainda pensei ficar, à distância, a presenciar o fenómeno mas, quando percebi a ausência de som nas guitarras, o aparecimento de um pianinho e uma balada-solo cantada com uma voz esganiçada resolvi fugir para bem longe. Algumas cervejas depois (sabiam que em Lisboa não existem funcionários de restauração minimamente simpáticos?), pagas principescamente voltei e esperei pacientemente, enquanto ia ganhando terreno na multidão, o concerto da noite. À hora marcada os senhores que brincam à música lá se foram embora. "Epá tenho que me ir embora que os meus pais já tão à minha espera" -diziam as borbulhas de um adolescente com o cabelo sobre os olhos. O recinto começava a encher, ainda entravam milhares de pessoas, a substituição etária era notória.

Com uma pontualidade inesperada, surgiram os primeiros acordes do main event. Entretanto e talvez pelas cervejas bebidas, um ida ao WC já me tinha deixado à deriva no meio da multidão... já que estava perdido de toda a gente, resolvi tentar o golpe. Com uma lata invulgar, lá fui andando, até que um segurança me barrou a passagem. De lado para o palco, mas dentro das barreiras, separavam-me da banda uns míseros dois metros... nada podia correr mal, da arquibancada senti as primeiras vibrações de um concerto que começava em jeito de best of. Cedo percebi que os dias de praia e surf em Portugal tinham acabado com a voz do Ed, os hits foram-se multiplicando com solos instrumentais alongados regados a vinho e fumados em intervalos improvisados em jeito terapêutico. A comunicação e empatia com o público foram as de sempre, mas notava-se que nem todos percebiam o que significava aquele momento. "Toca aquela", "queres ver que não tocam o Black" - diziam as miúdas encrostadas na grade. Percebi pela duração do main set que o concerto ia ser mais pequeno que o habitual, ao jeito de um Festival. Conformei-me, resolvi desistir das novidades, das músicas raras, do "Porch", de um stage diving improvisado, e libertei-me nos clássicos, cantei a plenos pulmões, e apesar do olhar estupefacto de alguns dos que me rodeavam , "olha este sabe-as todos", tive aquilo que precisava. E pronto lá tocaram a Black e só então senti aquele arrepio que uma terapia colectiva de música e ambiente pode causar. Ao som de Rocking in the free World o concerto aproximava-se do fim, o Ed lembrou-se de deambular por perto do público, com o habitual par de pandeiretas na mão, correu por entre uns atrapalhados seguranças agradecendo à multidão. Dirigiu-se para a zona onde estava e voou num abraço colectivo em direcção ao público... inesquecível (ainda não tomei banho desde então). Por fim e para acabar em beleza esticou a mão e entregou a pandeireta como recordação ao #%$%# do puto que tava ao meu lado. E eu que sou um fã tão dedicado... enfim...

No final ficará na memória um bom concerto, não o melhor em Portugal, bem mais curto e menos mágico que alguns anteriores, mas, ainda assim com momentos que ficarão para sempre no imaginário de todos os presentes. Eu continuo a adorar a banda e a odiar festivais. As tribos, os cheiros, as idades e a música não se misturam. Viva o Rock.




11 comentários:

Anônimo disse...

Leste-me os pensamentos,talvz por ambos sentirmos Pearl Jam, e tudo o que este nome abarca, por tudo o que apenas esta banda nos faz viver, por todos os sentimentos escondidos que ela faz despertar e pelo frio no estómago e o aperto no coraçao provocado pelo momento emque milhares de vozes se fazem ouvir como apenas uma.

Obrigado a todos os que comigo cantaram, saltaram, berraram e, o mais importante, Sentiram!

Somos uma familia, cada vez tenho mais certeza disso...

Anônimo disse...

E eu já tomei banho só porque tive de ir trabalhar... Também abracei o Eddie e ele entregou-me a outra pandeireta - que já guardo e estimo como se de um tesouro se tratasse (quando os PJ cá vêm o amor parece que cresce e toma proporções desvairadas - do tipo: esconder a pandeireta para a empregada não a limpar com "pronto" e apagar todos os vestígios de dna - lol). Pois é, ao fim de tantos anos lá o abracei, conseguindo dar-lhe ainda um beijinho antes de ser arrastada pelos seguranças. Já que estavas à frente, por acaso não tens imagens desse momento? Dava tudo para ficar com mais essa recordação... Eu estava mesmo do lado esquerdo do palco, mal a grade acabava,quando já só havia seguranças; estava do lado para onde o Eddie corre mal sai do palco (no rockin'). Se me puderes ajudar com fotos desse momento ou com mais vídeos dessa música agradecia - nos que estão no you tube não se vê nada bem.

Quanto a todas estas críticas ao concerto (não aqui no teu blog) só tenho a dizer que não me posso queixar - é sempre maravilhoso vê-los. Já os vi em Cascais e no Atlântico e só eu sei o que sofri por não os ver no Restelo, pois encontrava-me fora do país (acabei por ouvir o concerto quase todo por telemóvel, graças a amigos pacientes que fizeram o favor de me ajudar a gastar uma pequena fortuna em roaming - terminei essa noite agarrada a um papel onde ia escrevendo o alinhamento...) Por isso, não se queixem e aproveitem. Não foi já suficientemente bom virem a Portugal num intervalo de tempo tão curto? Bem sei que, por nós, vinham cá todos os anos, mas... O que interessa é que a mística continua, eles continuam brutais e poder assistir a um concerto de PJ, viver essa experiência única, individual, que nos transporta para o melhor lugar que há em nós... para aquele sítio em que somos só nós e eles, a música, as letras, o som, no fundo, a magia... cada um de nós amantes de PJ sabe disso. E, por favor! por mais que cada um de nós tenha as suas preferências, aquilo que acontece num black, num crazy mary, em qq uma é brutal e todos nós sabemos que é único - o que eles fazem ao público - o q nos fazem sentir... inexplicável...

Obrigada

catytambourine@gmail.com

Susano disse...

Pronto, vou estragar a harmonia.
Foi fraquinho

Unknown disse...

É óptimo perceber que nos percebem...
coisa de fã... sentimento de identidade, "família"...

Quanto a fotos, tivemos um pequeno problema... também gostava de ter fotos lá da frente... se eventualmente encontrar algo eu digo... se o mesmo acontecer por aí mandem para o mail do blog:
pjportugal@gmail.com

O concerto já anda a circular por aí... a gravação é muito mazinha... quando e se arranjar-mos uma com boa qualidade nós pomos aqui no blog... para fãs...

gossard_s (Live BroadCast) disse...

De facto não dá para explicar sentimentos tão puros e imediatos.. o que vale é que o Eddie ainda lá disse pelo meio "see u next year..".. espero que não seja em formato Festival!!! Os Pearl são merecedores do melhor publico, os verdadeiros fãs, não os "de oportunidade"! Keep Rockin' PLEASE!!!
andrerocha80@gmail.com

Anônimo disse...

"cantei a plenos pulmões, e apesar do olhar estupefacto de alguns dos que me rodeavam , "olha este sabe-as todos", tive aquilo que precisava. E pronto lá tocaram a Black e só então senti aquele arrepio que uma terapia colectiva de música e ambiente pode causar" EXACTAMENTE AQUILO QUE EU SENTI!

pearl jam!

http://www.youtube.com/watch?v=xhDEjnTR2ec

nao deve ser nada que voces nao tenham visto mas acho que é o verdadeiro espirito PEARL JAM!

Hasta!

Anônimo disse...

LOL, esse puto a quem o eddie entregou uma pandeireta é um conhecido meu.

E uma outra pandeireta que ele deu foi a uma rapariga minha colega!

e eu que sou um fã cada vez que me lembro disso só me apetece rouba-los..

Anônimo disse...

Eu tive a sorte de conseguir agarrar uma das baquetas que o matt cameron usou nessa noite! Quase que chorei.. Noite mais lindA!

Anônimo disse...

Pessoal,

Alguém sabe onde se pode sacar a bootleg do concerto do Oeiras Alive d e PJ com boa qualidade? Já pesquisei na net e só encontro um link para torrents:

http://www.mininova.org/tor/886518 - Não consegui sacar pois precisa de registo

Se souberem de algum link (torrent, megaupload, rapidshare, etc) onde houver uma versão com boa qualidade, digam.

Thanks

António Sousa disse...

É uma mistura impressionante de sensações, pensamentos e arrepios... a vontade de gritar e partir tudo, aliada à vontade de amar e respeitar todos os que nos rodeiam, é uma contradição perfeita!
Falo apenas como grande fã que sou de PJ, sem nunca infelizmente ter assistido a um concerto ao vivo.
Este ano lá estarei na minha estreia Grunger!! "Nós somos do caralho" :D

"Cara de serenidade, O Grunge atinge o seu Nirvana constante"

Fly disse...

Boas

antes de mais quero felicitar-vos pelo blogue. é mais um que vai para os favoritos :)

E agora para o anónimo de 11 de Maio de 2008 (lol), e para quem quiser deixo aqui dois links:

um para um blogue onde encontram (quase) todos os bootlegs de Pearl Jam, inclusive esse de Oeiras Alive 2007, podem ouvi-los online e fazer o download gratuito.(o deste ano ainda não está disponível, mas espero que esteja em breve)

http://www.pearljambootlegs.org/modules/jinzora2/

O outro link(espero não estar a abusar) é para o meu blog, onde encontram uma boa discografia de Pearl Jam. Falta este bootleg de 2007 porque sinceramente não me lembrava que eles tinham estado cá em 2007, enfim não sou assim tão fã como pensava, embora os tenha visto em Cascais, no Restelo e agora no Alive 2010.

http://flyonmusic.blogspot.com/2010/06/as-perolas-dos-pearl-jam.html#more

Mais uma vez parabéns pelo blogue

Abraço